Simples Nacional 2026: o que deve mudar e como a micro e pequena empresa deve se preparar
O Simples Nacional é o regime tributário que mais impacta diretamente o dia a dia das micro e pequenas empresas brasileiras.
Criado com o objetivo de simplificar a arrecadação e reduzir a carga tributária, ele unifica em uma única guia mensal (o DAS) tributos federais, estaduais e municipais, o que representa uma economia de tempo e de recursos, além de facilitar a gestão financeira e contábil dos negócios.
O regime atende empresas com receita bruta anual de até R$ 4,8 milhões e se tornou, ao longo dos anos, um instrumento essencial para a formalização e a sobrevivência de milhões de empreendimentos.
Estima-se que mais de 21 milhões de negócios estejam enquadrados nessa modalidade, incluindo microempreendedores individuais (MEIs) e empresas de pequeno porte. No entanto, com a Reforma Tributária e a entrada em vigor de novas regras a partir de 2026, o cenário passará por mudanças relevantes que exigem atenção e planejamento.
Mudanças e atualizações do Simples Nacional em 2026
O ano de 2026 marca o início da fase de transição da Reforma Tributária, trazendo impactos diretos para o Simples Nacional.
Entre os principais pontos está a introdução do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Nesse primeiro momento, serão aplicadas alíquotas simbólicas de 0,1% (IBS) e 0,9% (CBS), que servirão como fase de testes.
É importante destacar que as empresas do Simples Nacional estarão dispensadas do recolhimento efetivo dessas alíquotas em 2026. Contudo, essa dispensa não significa ausência de obrigações: será necessário atualizar sistemas e cumprir exigências acessórias, como a adaptação dos leiautes de notas fiscais eletrônicas e registros digitais.
A mudança exige que as empresas estejam tecnologicamente preparadas, mesmo que não haja impacto imediato no valor de tributos a recolher.
Outro ponto crítico envolve os termos de exclusão. A Receita Federal ampliou para 90 dias o prazo de regularização de débitos após a notificação de exclusão do regime. Essa ampliação é uma boa notícia, pois dá mais tempo para empresas regularizarem pendências sem perder o enquadramento.
No entanto, o prazo para contestar exclusões permanece em 30 dias, exigindo agilidade na tomada de decisão.
Obrigações acessórias e prazos críticos
Mesmo com a promessa de simplificação, a realidade para 2026 é de maior complexidade administrativa. O Simples Nacional exige o cumprimento de rotinas fiscais que vão além do pagamento mensal do DAS. Entre elas, destaca-se a entrega da DEFIS (Declaração de Informações Socioeconômicas e Fiscais) até 31 de março do ano seguinte.
Essa declaração continua obrigatória e deve ser feita de forma precisa, pois é compartilhada com fiscos federal, estaduais e municipais.
A fase piloto do IBS e da CBS exigirá adaptações em obrigações digitais, como a EFD (Escrituração Fiscal Digital) e os registros C100 e C190.
Mesmo dispensadas do recolhimento, as empresas do Simples precisarão alinhar seus sistemas para atender às exigências da Receita Federal, o que significa que, em 2026, a atenção à contabilidade digital será decisiva para evitar inconsistências que possam resultar em autuações ou complicações futuras.
Outro prazo que merece atenção é o de regularização de débitos. Empresas notificadas no Domicílio Tributário Eletrônico (DTE-SN) precisam acompanhar constantemente o portal, já que a ciência da notificação ocorre no primeiro acesso ou automaticamente após 45 dias.
Perder esse prazo pode significar a exclusão do regime já a partir de janeiro do ano seguinte.
Decisões contábeis e operacionais para otimizar a carga tributária
O novo cenário exige que o empreendedor, junto de seu contador, faça uma avaliação estratégica sobre o enquadramento mais adequado. A reforma introduziu variações como o Simples Padrão e o Simples Híbrido, que poderão ser mais vantajosos dependendo do modelo de negócio.
Para empresas que atuam no B2C (business-to-consumer), o Simples continua sendo atrativo pelo recolhimento unificado e alíquotas reduzidas. Já para empresas do B2B (business-to-business), a perda da possibilidade de transferência de créditos de IBS/CBS pode tornar o regime menos competitivo.
Outra decisão estratégica envolve o planejamento do crescimento. Para microempreendedores individuais que ultrapassam o limite de faturamento de R$ 81 mil, a transição para ME (Microempresa) é obrigatória e, no contexto da reforma, ganha importância adicional.
Esse movimento pode abrir caminho para regimes mais sofisticados e adequados ao perfil da empresa, como o Lucro Presumido, garantindo competitividade no mercado.
Será cada vez mais necessário revisar políticas de preços, formas de recebimento e prazos com fornecedores, de modo a mitigar o impacto das mudanças tributárias. O contador assume um papel estratégico, deixando de ser apenas responsável por guias e declarações e se tornando um consultor de cenários tributários.
Roteiro de compliance e pontos de atenção
Diante desse ambiente em transformação, o segredo para atravessar 2026 sem surpresas é investir em compliance tributário. Isso inclui manter em dia o pagamento do DAS, cumprir os prazos da DEFIS e acompanhar notificações no DTE-SN. Pequenos descuidos podem resultar em exclusão do regime, trazendo custos elevados de tributação fora do Simples.
Outro ponto essencial é a digitalização da gestão fiscal. A obrigatoriedade de notas fiscais eletrônicas integradas e adaptações em sistemas contábeis exige que a empresa invista em softwares atualizados e seguros. O investimento em tecnologia deve ser encarado como parte do planejamento tributário, já que reduz riscos de inconsistência.
Por fim, recomenda-se criar um calendário tributário interno, revisado mensalmente em conjunto com o contador. Essa prática ajuda a garantir que nenhuma obrigação seja esquecida e permite prever impactos financeiros com antecedência.
Mais do que nunca, a regularidade fiscal será fator de sobrevivência para micro e pequenas empresas no período de transição da Reforma Tributária.
Conclusão
O ano de 2026 inaugura uma fase decisiva para as micro e pequenas empresas no Brasil. Embora o Simples Nacional tenha sido preservado formalmente, sua operacionalização se tornará mais complexa e exigirá decisões estratégicas bem fundamentadas.
As mudanças não devem ser vistas apenas como desafios, mas como oportunidades de reorganizar a gestão e buscar maior eficiência.
Ao lado do contador, o empreendedor deve adotar uma postura proativa, ajustando sistemas, planejando o crescimento e acompanhando de perto os prazos legais. Assim, será possível minimizar riscos, otimizar a carga tributária e manter a competitividade em um cenário de profundas transformações fiscais.
O segredo está em não esperar as mudanças chegarem para agir, mas sim em se preparar desde já para um Simples Nacional muito mais exigente e estratégico em 2026.
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